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Manejo de resistência a inseticidas e a indústria

Origens e evolução do Comitê de Ação de Resistência a Inseticidas (IRAC) e o esquema de classificação do modo de ação

Texto traduzido e resumido de Sparks et. al. 2021. Para ler o artigo original na íntegra, acesse: onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ps.6254


Antes das décadas de 1940 e 1950 a resistência a inseticidas era rara. O fenômeno tornou-se mais frequente à medida que os inseticidas “orgânicos sintéticos” como DDT, organofosforados e ciclodienos foram introduzidos para controle de pragas. Com o aumento do número de casos de resistência, surgiu também a necessidade de implementação de novas estratégias no enfrentamento do problema, resultando na implantação do manejo integrado e o manejo de resistência, além do desenvolvimento de novas classes de inseticidas.


Mesmo com a adoção das ações citadas anteriormente ainda havia a necessidade de um enfrentamento mais proativo do problema, o que resultou em um esforço em conjunto por parte das empresas que trabalham com a proteção de cultivos. Como um dos resultados deste esforço foi criado o IRAC (Comitê de Ação à Resistência a Inseticidas) em 1984, que passaria a contar com especialistas técnicos das empresas participantes e assessorados por cientistas acadêmicos e independentes. O artigo publicado por Sparks et. al. (2021), aborda detalhadamente a história e ações do IRAC ao longo dos seus 35 anos de existência.


Antes da formação do IRAC da forma como conhecemos hoje, nasceu em 1979 o então “Pyrethroid Efficacy Group” (PEG) nos EUA, focado em: assessorar tecnicamente pesquisadores, produtores e instituições governamentais quanto aos problemas de resistência aos piretroides; entender as causas das falhas no campo e suportar financeiramente pesquisas sobre resistência aos piretroides. Posteriormente em 1985 o PEG passaria a integrar o IRAC, como um subcomitê.


Em resposta a grande importância, agora elucidada, com relação a resistência, foi criado o “Groupement International des Associations Nationales de Fabricants de Produits Agrochimiques” (GIFAP), acompanhando a mesma linha do PEG, porém abrangendo os mais diversos tipos de produtos químicos utilizados na proteção de cultivos. Ao longo de sua história o GIFAP passou por melhoramentos, tornando-se a associação que conhecemos hoje como CropLife International, trazendo o IRAC como um de seus associados.


Desde sua fundação o IRAC tem como principal objetivo identificar e oferecer soluções para a resistência a inseticidas e atualmente conta com formações locais do comitê em mais de 20 países, o que garante a ampliação dos trabalhos e o aumento do impacto das suas ações. Adicionalmente, trabalha no desenvolvimento de métodos de monitoramento, coleta e divulgação de dados dentro da indústria e coordenação dos esforços entre indústria e cientistas para desenvolver novas maneiras de enfrentamento à resistência.


Dentro do IRAC as ações e liderança são compartilhadas pelos representantes das empresas associadas, sendo que periodicamente ocorre a alternância da presidência do comitê, eleita pelos representantes. As atividades são geralmente divididas em grupos de trabalho (GTs), supervisionados por um Comitê Executivo. Esses GTs podem ser formados para serem permanentes (por exemplo, focados em pragas específicas) ou para realização de tarefas pontuais e após a conclusão, serem dissolvidos. Atualmente os trabalhos de manejo de resistência focam em biotecnologia, proteção de culturas e saúde pública. O IRAC, seus GTs associados e equipes internas de trabalho são responsáveis por gerar informações e publicações que forneçam melhorias nas práticas de gestão da resistência por empresas, serviços de extensão, consultores agrícolas e usuários finais.


Sabendo da importância de tratar a resistência em um nível mais específico em cada país e região, o IRAC estabeleceu diversos grupos regionais e nacionais. Alguns após atenderem a necessidade momentânea, foram extintos, já outras perduram por muitos anos. Já são mais de 20 grupos nacionais do IRAC em todo mundo, além de grupos regionais, como o IRAC Ásia e IRAC Europa.


Evitar o uso consecutivo de inseticidas com o mesmo modo de ação para controle de uma mesma população de praga é um dos princípios do manejo de resistência. Sendo assim, o Esquema de Classificação IRAC MoA permite estabelecer quais MoAs são iguais e quais são diferentes, fornecendo uma abordagem simples e direta para a seleção de inseticidas e acaricidas para alternância / rotação de acordo com os protocolos de MRI. O esquema é revisado e atualizado constantemente conforme são descobertas as informações sobre MoA de inseticidas e acaricidas. Isso inclui tanto adicionar novos modos de ação e classes químicas, como alterar os grupos existentes e excluir os que não atendem mais às definições / objetivos do Esquema de Classificação MoA. A versão mais recente pode ser acessada no site do IRAC, abrangendo 35 grupos diferentes (irac-online.org/mode-of-action).

O estabelecimento de linha básica de suscetibilidade para insetos-praga importantes também é um componente fundamental para o monitoramento da resistência, idealmente, com bioensaios robustos adequados para uso em todas as regiões, facilitando o relato, compartilhamento e comparação direta de dados. Os métodos abrangem uma gama de insetos-praga e diferentes classes de inseticidas e muitos destes já podem ser encontrados na forma de vídeos de “como fazer”, fornecendo uma abordagem simples e fácil sobre como conduzir um determinado bioensaio. Todos esses métodos de bioensaio e vídeos estão disponíveis gratuitamente no site do IRAC (irac-online.org).

A facilitação de acesso e compartilhamento de informações sobre resistência a inseticidas e características da resistência é uma importante área de interesse que reflete os objetivos do comitê. Diante disso, o IRAC apoia o Banco de Dados de Resistência de Artrópodes a Pesticidas (Arthropod Pesticide Resistance Database - APRD) desenvolvido e mantido pela Universidade do Estado de Michigan (Michigan State University - MSU).

Com o intuito de que a agroindústria gerenciasse de forma mais eficaz as populações de pragas resistentes, o IRAC tem se voltado cada vez mais para o MRI pró-ativo a fim de retardar a evolução da resistência, reduzindo sua propagação e gerenciando os impactos econômicos e ambientais.


No momento, a atenção está voltada para o desenvolvimento de recomendações práticas e científicas para manejar pragas de maneira que promova o MRI, como o uso de 'janelas', simplificando as rotações de MoA que são voltadas para os ciclos de vida de pragas e culturas. A expansão da rede de equipes do IRAC em diversos países propicia a colaboração de especialistas do setor público, consultores e entomologistas, que são fundamentais para o desenvolvimento de estratégias de MRI específicas, sendo mais apropriadas para cada situação e local.


A implementação das recomendações do MRI pelos usuários finais continua sendo um desafio. Portanto, o IRAC também está desenvolvendo ferramentas educacionais e de comunicação (vídeos curtos, folhetos, pôsteres e outras mídias traduzidas em vários idiomas) para auxiliar os revendedores, consultores agrícolas e usuários finais a compreender as potenciais ameaças de resistência e o papel que podem desempenhar na redução dessas ameaças. Diante disso, o IRAC está aumentando seu acesso aos recursos e conexões da rede CropLife International, incluindo seus especialistas em comunicações.

A eficácia do Manejo de Resistência de Insetos (MRI) está diretamente ligada à cooperação entre a indústria, academia, agências reguladoras, consultores agrícolas, produtores e demais usuários finais.


Tanto o comitê como as empresas envolvidas visam mitigar o impacto da resistência a inseticidas nas lavouras, proteger as culturas, controlar as pragas, manter a utilidade e eficácia dos compostos de proteção de cultivos e desenvolver novas ferramentas para proteção das lavouras.


Fonte:

Sparks, T. C. et. al. Insecticide resistance management and industry: the origins and evolution of the Insecticide Resistance Action Committee (IRAC) and the mode of action classification scheme. Pest Management Science. Jan, 2021.


Para ler o artigo na íntegra (original), acesse: onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ps.6254


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