Nos dias 30 e 31 de maio ocorreu o Workshop “Ferrugem Asiática da Soja: Situação Atual e Desafios”, coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em Brasília (DF).
O evento reuniu cerca de 90 representantes da cadeia produtiva da soja. Dentre eles, produtores, pesquisadores, e representantes dos Órgãos Estaduais de Defesa Agropecuária, da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), da Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), do Ministério da Agricultura (Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas, Secretaria de Defesa Agropecuária) e da Embrapa Soja.
O Workshop teve como finalidade a uniformização das informações obtidas da pesquisa, as experiências de regulação, demandas e impactos no setor da soja ocasionados pela ferrugem asiática, para obter dados substanciais à revisão do Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja (PNCFS) do MAPA.
Os temas do workshop foram: legislação existente no Brasil para o manejo da ferrugem asiática; a janela de semeadura no manejo da praga; cenários futuros × manejo da ferrugem asiática; demanda do setor produtivo em relação ao calendário de semeadura da soja; variabilidade genética das espécies-praga; monitoramento da resistência do fungo aos fungicidas; novos produtos para o controle; tecnologias para produção de sementes e o Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja; e consequências do cultivo de soja tardia na resistência a inseticidas.
Este último tema foi apresentado pelo Comitê Brasileiro de Ação à Resistência a Inseticidas (IRAC-BR), que trouxe esclarecimentos sobre o impacto que o plantio de soja tardia pode trazer para o manejo de pragas, não só em soja, mas em outras culturas de importância agrícola, como em algodão, milho e feijão.
Dados do monitoramento dos principais insetos-praga (Spodoptera frugiperda, Chrysodeixis includens, Helicoverpa armigera, Bemisia tabaci e Euschistus heros) dessas culturas foram apresentados. Os dados desses estudos demonstram uma redução na suscetibilidade das pragas ano após ano para os principais ingredientes ativos utilizados no seu manejo. Isso demonstra que se boas práticas agrícolas e os programas de manejo de resistência não forem implementados, num curto espaço de tempo muitos dos ingredientes ativos utilizados para o controle dessas espécies terão sua eficácia comprometida.
Por exemplo, dados da suscetibilidade de Euschistus heros a piretroides e neonicotinoides demonstraram que ao final da safra de soja há uma redução na suscetibilidade dessa espécie aos inseticidas, devido a pressão de seleção ao longo da safra. Diante disso, se faz necessário entre outras estratégias, reduzir a exposição aos inseticidas. Como o pico populacional dessa espécie ocorre em janeiro e fevereiro, se houver plantios de soja em fevereiro, as populações que irão colonizar as lavouras já apresentarão uma menor suscetibilidade aos principais ingredientes ativos. Os dados de monitoramento de Spodoptera frugiperda na entressafra também demostram que as populações são menos suscetíveis a diversos ingredientes ativos do que populações coletadas no início da primeira e segunda safra. Além disso, a ocorrência e dispersão de algumas espécies, como Bemisia tabaci biótipo Q, devem ser considerados, visto que este biótipo tem maior probabilidade de seleção para resistência, pois possui um ciclo mais curto, o que resulta em mais ciclos sob pressão de seleção na safra. Diante disso, deve-se considerar o manejo dessas e outras espécies-praga no decorrer do ano agrícola e respectivo sistema de produção de cultivos, e não apenas o manejo pontual de cada espécie em determinada cultura.
Nesse workshop também se discutiu a importância do vazio sanitário e da calendarização do plantio para reduzir a pressão de seleção de inseticidas e fungicidas nas populações de pragas. O vazio sanitário irá reduzir a oferta de hospedeiros para a sobrevivência e desenvolvimento das pragas e consequentemente reduzirá o uso de inseticidas e fungicidas no início da safra seguinte (menor exposição - pressão de seleção). Em suma, o planejamento do sistema de produção de cultivos é essencial para a sustentabilidade da agricultura brasileira.
Autores:
Izabella Oliveira, Daniela Okuma e Oderlei Bernardi