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Em busca de novas estratégias


A evolução da resistência de insetos, plantas daninhas e patógenos a pesticidas tem dificultado o controle destas pragas em culturas agrícolas no mundo. De acordo com a associação CropLife, mais de 580 espécies de artrópodes (insetos e ácaros) e 230 espécies de fungos e plantas daninhas desenvolveram resistência a pelo menos um pesticida. Nas últimas décadas a indústria vem tentando desenvolver novos produtos, no entanto, a descoberta de modos de ação está cada vez mais difícil e caro. A descoberta e a possibilidade de registro de novas moléculas de pesticidas, com modo de ação inovador, para os próximos 10 anos, é quase nula. Por isso, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas visando diminuir a utilização e a dependência de produtos químicos no controle de pragas agrícolas. Algumas dessas alternativas se baseiam no uso de microrganismos, engenharia genética e biomoléculas.

Por exemplo, a descoberta da toxicidade de proteínas da bactéria Bacillus thuringiensis (Bt) para insetos foi um grande avanço. Isso permitiu o desenvolvimento das culturas geneticamente modificadas (GM) para o controle de insetos-praga, as quais têm reduzido os custos de produção e elevado os índices de produtividade de diversas culturas. Outro exemplo é a estirpe da bactéria Burkholderia que produz várias substâncias químicas pesticidas com efeito inseticida e nematicida, dependendo do meio de cultivo. Pesquisas similares buscam encontrar mais microrganismos que produzem substâncias com a capacidade de controlar pragas. Entretanto, um dos problemas da maioria dos biopesticidas são sua rápida degradação e eficácia reduzida, que na maioria das vezes é inferior aos pesticidas sintéticos. No entanto, eles diminuem a utilização de produtos sintéticos e podem ser utilizados em misturas para aumentar sua eficácia.

Outros estudos como o RNA de interferência (RNAi), buscam controlar as pragas causando o “desligamento” de um determinado gene, levando-as a morte. Alguns resultados indicaram que a maneira mais eficiente e conveniente de se usar a técnica do RNAi é via aplicação direta nas folhas ou absorção via raízes. Porém, o uso via absorção pelas raízes pode reduzir a eficiência do RNAi, pela possibilidade de o produto ser degradado por microrganismos de solo, antes que ele seja absorvido e translocado na planta. Além disso, o uso de RNAi enfrenta outros desafios, como eficiência variável de controle para espécies distintas, e a possibilidade de resistência.

Outra estratégia de manejo de pragas que está sendo testada é a edição do genoma com a ferramenta CRISPR. Essa técnica tem base num sistema natural que existe nas bactérias como estratégia de defesa contra microrganismos invasores. Isso permite determinar a posição exata de inserção de um gene no genoma de um organismo, possibilita a alteração dos genes de interesse presentes para controlar a expressão de proteínas. Essa edição genética é potencialmente capaz de prevenir a transmissão de doenças por insetos, reverter a resistência à pesticidas e, desenvolver culturas agrícolas resistentes a pragas. No entanto, essa técnica ainda está sendo aperfeiçoada e não foi testada em ambientes naturais.

Apesar de o CRISPR ser uma das possibilidades para o manejo de pragas num futuro próximo, ainda será necessário usar de maneira integrada as diferentes táticas de controle disponíveis. Sendo assim, as boas práticas agrícolas para o manejo de pragas, como: o monitoramento de pragas; a rotação de pesticidas com diferentes modos de ação; o uso e preservação de inimigos naturais; a rotação de culturas e o respeito ao período de vazio sanitário são imprescindíveis para evitar a resistência em pragas agrícolas, bem como, possibilitar o controle mais efetivo de pragas.

Para saber mais:

Borel, B. When the pesticides run out. Nature, v. 543, p. 302-304. 2017.

Revisão:

Daniela Okuma

Oderlei Bernardi

Foto:

Borel (2017)

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