Formulações encapsuladas, entre outras tecnologias seguras e eficazes, desenvolvidas para medicamentos, já estão sendo utilizadas no controle de pragas, diz Edivaldo Domingues Velini, da Unesp, em workshop sobre resistência de pragas na agricultura. Para o especialista, os defensivos disponíveis hoje, se usados corretamente, garantem a segurança dos alimentos e o aumento da resistência das pragas é fruto de aplicação incorreta
Se os agrotóxicos são produtos para tratar as plantas contra pragas que as atacam, levando muitos a fazer uma analogia com os medicamentos, no controle de bactérias e vírus, agora essa associação deve fazer cada vez mais sentido. É que algumas tecnologias empregadas para o tratamento de doenças já começam a ser aplicadas também na agricultura, como produtos encapsulados em um tipo de polímero de ciclodextrina, que promove uma liberação lenta do princípio ativo, ou o RNA de interferência, entre outras.
Essas inovações estão tornando os defensivos agrícolas cada vez mais seguros e eficazes, afirmou o Prof. Edivaldo Velini, da Universidade Estadual Paulista – Unesp de Botucatu, durante sua apresentação no workshop Resistência – Impactos Econômicos na Agricultura e Construção de uma Proposta de Manejo, realizado nesta 4a feira (18), em São Paulo. O evento foi organizado pelos comitês brasileiros de Ação à Resistência a Inseticidas (IRAC-BR), Fungicidas (FRAC-BR) e Herbicidas (HRAC-BR), com apoio da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) e do Sindicato Nacional das Indústrias de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg), preocupados com o crescimento populacional de insetos, fungos e plantas invasoras que ameaçam a produtividade das lavouras brasileiras e encurtam cada vez mais a vida útil dos produtos usados em seu combate.
Os produtos químicos hoje disponíveis no mercado brasileiro para o controle de pragas já garantem a segurança dos alimentos consumidos no país, afirma Velini. Uma prova, segundo ele, é que os casos de morte por intoxicação por defensivos agrícolas têm recuado. De acordo com dados da Fiocruz, em 2012, foram 9 casos de óbitos por intoxicação (excetuando os homicídios e suicídios) por agrotóxicos agrícolas, contra 22 em 2002, ou seja, dez anos antes.
“O consumo não implica risco”, assegura o pesquisador, que é presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, para quem o cultivo de plantas transgênicas, aprovado oficialmente no Brasil em 2005 (quando da promulgação da Lei de Biossegurança), contribuiu para a redução dos casos.
Aplicações incorretas
Como nas recomendações dos médicos sobre o correto uso dos antibióticos – que têm um prazo mínimo de dias de uso, além do respeito ao horário – os agrotóxicos, que podem ser considerados remédios para as plantas, também têm regras para garantir sua eficácia. Erros na forma de aplicar esses produtos, como uso de subdoses ou doses pontuais, a não atenção a fatores climáticos na hora da aplicação, a não adoção da rotação de culturas, entre outros, foram apontados por Velini como causadores do aumento dos casos de resistência aos produtos.
“O grande problema é educacional”, afirmou o professor, lembrando que o Censo Agropecuário do IBGE de 2006 apontou que cerca de 80% dos produtores rurais brasileiros não tinham concluído o ensino fundamental. Aliada a isso, a extensão pública atinge apenas 22% dos produtores no Brasil hoje.
Dessa forma, Velini recomenda a construção de redes de trabalho reunindo universidades e instituições de pesquisa, empresas, associações e entidades de classe, e órgãos públicos, para encontrar soluções para combater a resistência e implementá-las. “Um trabalho em parceria é fundamental para resolver um problema complexo como este”, diz.
Fonte: Cenário Agro